sexta-feira, 21 de junho de 2019

Sobre o Amor, a culpa e a maternidade...



Ontem não consegui adormecer o Vicente, nem fui capaz de sossega-lo. Chorava pelo pai, que estava na cozinha, e nada do que eu dissesse ou fizesse conseguiu acalma-lo. O desespero do meu bebé fez com que acabasse por chamar o Rui e por desabar a chorar, sozinha na cozinha.
Não ser a pessoa para quem ele corre quando se magoa, nem com quem ele se aninha quando está assustado ou com sono, é demolidor para mim. Não ser quem consegue acalma-lo quando está triste, nem ser quem cujo abraço e colo lhe tiram todos os medos e todas as dores, dói-me a mim. Dói-me no coração. Mas de tudo o que causa dor, tento tirar uma aprendizagem qualquer. Neste caso, testemunho de perto que o "cuidador" não tem precedência de género e que os pais, tal como as mães, podem ser a referência afetiva principal dos filhos.
Hesitei em publicar este post, porque tive medo que me vissem como uma mãe menos capaz, menos competente, menos mãe. Mas decidi faze-lo, porque não sou nada disso. Sou mãe de um bebé que tem a sorte de ter um pai presente física e emocionalmente desde sempre, e que encarou a paternidade como a sua prioridade desde o dia 25 de Maio de 2016. Não sou o primeiro colo para quem o Vicente corre, mas sou o segundo, e abrir mão deste protagonismo é o maior exercício de humildade da minha vida. O mais desafiante, o mais duro e, espero eu, o mais transformador.

[um agradecimento muito especial a todas as pessoas que fizeram comentários no post do instagram; juro que me aqueceram o coração]

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Não gosto de brincar com os meus filhos (e está tudo bem)

Tenho quatro filhos e nunca gostei de brincar com nenhum deles. Não sei de onde isso vem, e talvez já não importe saber. A única coisa que importa, é descobrir como se cria conexão sem gostar de brincar. Essa tem sido, na verdade, a batalha da minha maternidade e a razão de algumas "culpas".
Hoje, com 44 anos, já sei que há outras maneiras de criar vínculo com os meus filhos. É preciso ser criativa e puxar pela cabeça. É preciso saber o que me dá prazer e ver como posso trazê-los para o meu mundo. E é preciso ir para o deles e ver o que sai dali.
No fim-de-semana joguei à bola  e não me dei mal, até o Vicente dizer para eu ficar a ver enquanto ele jogava com o pai. Fiquei a olhá-los a rir, enquanto se exibiam para mim. E descobri que há muitas maneiras de estar presente.



sexta-feira, 22 de março de 2019

Residência Alternada: sim ou não ou talvez?





A grande questão que ultimamente mais me tem sido colocada, desde que falo sobre a parentalidade na separação e no divórcio, refere-se à partilha de tempos dos filhos com ambos os pais. As mães que me procuram estão normalmente angustiadas e ansiosas com a situação, temendo que a partilha equitativa de tempo com o pai, possa afectar a relação que elas têm com os filhos, e que isso possa causar-lhes (aos filhos) algum dano emocional.
Não sou Psicóloga, mas suspeito que ainda que fosse, não teria uma resposta certa e definitiva para dar. Acredito por experiência e por princípio, que os filhos têm o direito de conviver com ambos os pais e a estabelecer relações seguras com os dois. Acredito que a residência alternada é o modelo que mais facilmente poderá proporcionar este contacto regular afectivo com ambos. Mas por defeito profissional (e talvez pela minha história), sou avessa a tudo o que sejam generalizações e verdades absolutas. Cada caso é um caso, cada criança é uma criança, cada família é uma família. A partilha dos filhos não é matemática e não pode ser feita cegamente, como a partilha de um bolo. Há que atender à idade e nível de desenvolvimento dos filhos, à sua personalidade única, ao tipo de relação que os pais estabelecem entre si, ao estilo de coparentalidade que estão a conseguir exercer, e por aí adiante.
Acredito que a residência alternada é a casa de chegada, mas como em todas as viagens, há rectas, curvas e contra-curvas, tempos de partida e de chegada diferentes. E como em todas as viagens, o que é preciso é chegar ao destino em segurança. Pelos nossos filhos.

sexta-feira, 15 de março de 2019

O que dirias à miúda que já foste?

[Tattoo feita 1 mês antes do meu filho ir para a China. Também fala sobre a coragem de ser autêntica]

Se pudesse falar com a miúda de 20 anos que fui, dir-lhe-ia o seguinte:

Que o medo não é sinónimo de fraqueza.
Que há oportunidades que não podem ser perdidas com receio do fracasso.
Que não faz mal mudar de ideias, de pessoas, de projetos.
Que é fundamental dizer "não".
Que dizer "sim" pode ser um salto de fé.
Que nunca agradarei a toda a gente.
Que as dúvidas, os avanços e os recuos fazem parte.
Que as nossas vulnerabilidades podem ser a nossa maior força.
Que nada é adquirido.
Que temos o poder de mudar a nossa história.
Que tentar agradar a todos pode destruir-nos.
Que os caminhos mais sinuosos são, muitas vezes, os mais diretos para o nosso propósito.
Que cuidar dos outros implica cuidar de nós.
Que desistir não é sinónimo de fracasso.
Que a tristeza mata aos bocadinhos.
Que os filhos não são nossos.
Que o nosso corpo é o nosso templo sagrado.
Que as vitórias se fazem de sucessivos fracassos.
Que a autoconfiança anda de braço dado com a autenticidade.
Que nunca é tarde para mudar nada.
Que numa vida cabem muitas vidas.
Que perante o curso dos acontecimentos, só nos resta escolher como vivê-los.
Que o Amor pode ser desapego.
Que o nosso caminho pode ser politicamente incorreto.
Que a nossa segurança pode ser tremendamente assustadora para as inseguranças dos outros.
Que não vale a pena fugir de certos desafios.
Que o que é para nós, será.

terça-feira, 12 de março de 2019

Pais cuidadores



Entre os 19 e os 28 meses do Vicente, deixei assumidamente de ser a sua cuidadora principal. Escolhi abraçar um projeto profissional desafiante, e durante 9 meses deixei de o levar e trazer da creche, de o passear ao final do dia, de o adormecer, de estar presente como tinha estado até ali.
Esses nove meses mudaram a nossa relação, porque como não estava física e emocionalmente disponível para o meu filho, ele entregou-se ao pai que (curiosamente no tempo de uma gestação), ganhou um bebé ávido de amor e de atenção.
Já se passaram seis meses desde que voltei a ter disponibilidade para o Vicente e ainda é o pai que ele chama quando se magoa, quando tem fome ou sede, quando se sente perdido, quando precisa de mimo. Acredito que tem sido um caminho mais difícil para mim do que para o Vicente, que nunca deixou de ter um colo pronto e seguro.
A crença que tinha de que a mãe é a única que sabe cuidar, é um mito que me caiu por terra dentro de casa. Os filhos precisam de colo, de vinculação, de entrega emocional, mas acredito agora que tanto a mãe, como o pai verdadeiramente investidos, podem nutri-los de igual modo.
Esta descoberta e convicção ajudam, também, na hora do divórcio. Quando os filhos estão com o pai, estão com alguém que, quando empenhado e responsável, sabe ser cuidador. Menosprezar esta sua capacidade é diminui-lo, mas é mais que isso: é diminuir o mundo interior dos nossos filhos. É privá-los de uma parte que também lhes pertence.
Se dói passarmos tempo sem os nossos filhos? Dói horrores, ficamos em carne viva. Mas essa é a nossa dor e é da nossa inteira responsabilidade geri-la. A dor dos nossos filhos é perderem um dos pais e ficarem com o Amor pela metade.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O mano que ninguém queria e que toda a gente adora!

Dezembro 2018

Foi à mesa do jantar que lhes dissemos que iam ter um mano.
A Vitória desatou a chorar, porque preferia uma mana.
O Duarte disse que não queria mano nenhum.
O Vasco acrescentou que já desconfiava, porque eu estava mais gorda do que o costume.
Depois deste começo atribulado, acabámos todos juntos, na nossa cama, a discutir nomes, e no lote final de Henrique, Lourenço e Vicente, ganhou o último por unanimidade de votos.

A vida não é linear. Não tenhamos a ilusão nem a ingenuidade de pensar que se faz sempre em linha recta, ou que é sempre a preto e branco.
A vida é feita de nuances, de curvas e contra-curvas, de tons matizados, de planícies e de montanhas.
Ainda assim, acredito piamente que ela sabe sempre o que faz, e a nossa história em família, é a prova viva disso mesmo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Detox forçado!


Estou há um mês sem acesso às redes sociais no telefone, o que tem implicado um valente "detox virtual".
Tem sido um caminho de descoberta, porque é quando certas coisas nos faltam, que percebemos a importância que tinham na nossa vida, e quando descobrimos se esse papel vital nos fazia bem ou nos fazia mal.
Acredito que não vos conto nada que também não reconheçam. Passava a vida agarrada ao telefone a ver as notificações cair, a apreciar fotos das pessoas que me inspiram e constantemente à espera de feedback positivo. Na verdade, as redes sociais fazem isso por nós: colocam-nos, a todos, à distância de um click, fabricam heróis e vilões à velocidade da luz e, em dias bons, sobem-nos o ego com uma pinta do caraças.
Não quero demonizar o processo, porque faço parte dele e continuarei a fazer. Gosto do exercício da partilha, e é através dela que exorcizo muitos fantasmas e refaço a minha história interior. O problema está naquilo que deixamos de fazer em nome de um certo exercício narcísico e voyerista que as redes sociais implicam. O problema está quando o que se passa no écran ganha mais importância do que aquilo que se passa na vida real, e aí sim, é preciso dar um passo atrás e ganhar perspectiva.

Ontem, pela primeira vez, assisti ao treino de Taekwondo do meu filho Vasco, com princípio, meio e fim, sem écran. E se vos disser que ganhei o dia, não vos minto.
Acredito que o Universo tem formas criativas de nos dizer coisas. Basta estarmos atentos aos sinais.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Fazes-me falta.



Estás há meio ano no outro lado do mundo.
A tua cama está ocupada pelo mano Vasco e o teu lugar à mesa vai rodando entre todos, porque nenhum de nós quer de facto ocupa-lo. É teu. Será sempre teu.
Falamos de ti ao Vicente todos os dias e apesar de viveres noutro Continente, moras em nós, e mais perto é impossível, certo? A verdade é que por mais que me ande a portar bem - não choro, faço a minha vida como normalmente, digo a toda a gente que está a ser a experiência de uma vida - por mais que faça tudo by the book, fazes-me falta. Fazes-me uma falta do caraças.

Hoje começas mais uma aventura como voluntário no Cambodja.
Faz assim: vive tudo até ao tutano e guarda na memória cada pessoa que se cruzar no teu caminho, cada cheiro, cada sabor, cada sorriso, cada lágrima, cada emoção, cada desafio, cada vitória e cada dificuldade. Guarda tudo dentro de ti o mais que puderes, porque isso tudo que viveres e que fores capaz de guardar, fará parte da massa de que és feito. Na verdade, fará parte do teu ADN  e da "caixa de ferramentas" que precisamos para guiar a vida. E a tua, meu amor, já está cheia para poderes ser e fazer o que quiseres.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O Divórcio é um casamento fracassado?


O Divórcio é um casamento terminado.
Um casamento fracassado é aquele que dura uma vida inteira, mesmo sem já fazer nenhum sentido.
Um casamento fracassado é aquele que faz pais e filhos infelizes.
Um casamento fracassado é aquele que dá sinais errados sobre o que é amar e respeitar alguém.
Um casamento fracassado é que aquele que coarta a liberdade e que limita movimentos.
Um casamento fracassado é aquele que permanece sempre, apesar da dor, do sofrimento ou da desilusão.
Um casamento fracassado é aquele que não se pode questionar nunca.
Um casamento fracassado é aquele que causa feridos graves e que deixa sequelas.
Um casamento fracassado é aquele que nunca se desfaz, apesar de já estar desfeito.

O Divórcio é um casamento terminado.
Um casamento fracassado é muito mais grave, porque ninguém questiona, ninguém aponta o dedo, ninguém mexe na ferida. Mesmo que já só restem almas penadas, ele vingou. Ele é um sucesso retumbante.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Receita pessoal para cumprir sonhos!






Quando quiseres cumprir sonhos que te parecem impossíveis, faz isto:
- Mostra-te disponível para aprender sempre;
- Visualiza-te a cumprir o teu sonho;
- Partilha-o, porque verbalizá-lo é dar-lhe poder;
- Rodeia-te de pessoas que te empurrem para a frente;
- Tem a coragem de eliminares as pessoas tóxicas da tua vida;
- Abala todas as crenças que te dizem que não és suficiente;
- Faz um plano e prepara-te;
- Traça um plano B e C;
- Procura mentores nos livros que lês, nos professores que vais tendo, nos "amigos-alavanca" que te rodeiam;
- Vive o medo sem demasiado medo;
- Aprende a nadar e mergulha.

Aviso: vai haver um momento em que estás preparada, mas o medo é tanto, que achas sempre que não. Atenta aos sinais: o que te diz o coração? O que te dizem os "amigos-alavanca"? O que está a vida continuamente a dizer-te?
Pois.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Já experimentaste olhar para a tua história de um ângulo diferente?





Quando nos apaixonámos, cada um de nós trazia consigo a bagagem de um primeiro casamento. Esta circunstância de vida é a nossa história e é com ela que construímos quem somos e quem queremos ser.
Nós escolhemos fazer dessa nossa "bagagem" uma mala cheia de aprendizagens. Um malão de ensinamentos que evitam que repitamos os mesmos erros do passado e, só por isso, é um saco cheio de coisas boas.
E tu?
O teu saco está cheio de quê? De aprendizagens ou de dissabores?
De que ângulo escolhes olhar a tua história?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Divórcio, filhos, culpas e desculpas!





É apaziguador pensar que por mais infelizes que sejamos numa relação conjugal, se a mantivermos (mesmo que a qualquer custo!), conseguiremos educar filhos felizes. Lamento dizer que não é verdade. O barómetro de felicidade dos filhos é, durante muito tempo, a felicidade dos Pais, e enganamo-nos a nós próprios quando achamos que eles não percebem nada do que se passa na nossa vida. Mesmo que ainda não tenham idade nem maturidade suficientes para saber exactamente o estado d´arte da família,  as crianças têm uma espécie de "radar das emoções dos Pais", isto é, uma capacidade para detectar espaços de conforto e de desconforto, de paz e de conflito, ainda que latente. Isto para não falar de Pais em conflito aberto e escalado. Nesses casos, as consequências da exposição ao conflito dos filhos, pode ter repercussões para a sua vida inteira: para os pais que poderão vir a ser, para o marido ou mulher que escolherem ser, para o adulto do futuro.
Manter um casamento infeliz por causa dos filhos pode acalmar a culpa durante um tempo, ou servir de desculpa para não tomar decisões, mas a verdade-verdadinha, é que não faz nada por eles, a não ser dar-lhes sinais errados sobre o que é ter uma relação conjugal positiva com alguém.  Que exemplo estamos a dar aos nosso filhos quando permanecemos numa relação em que acontecem algumas destas situações com regularidade?
-Pais que não se beijam, nem se abraçam
-Pais que não conseguem conversar, apenas gritar
-Pais que não se falam
- Pais que não se olham nos olhos
-Pais que não se riem um com o outro
- Pais que se agridem verbal e/ou fisicamente
- Pais que não dormem juntos
- Pais que não passam tempo juntos
- Pais que não namoram
- Pais que não se respeitam mutuamente
-Pais que não se amam
- (...)

As primeiras referências dos nossos filhos no que ao Amor diz respeito, chegam-lhes das suas principais figuras de referência que, na maioria dos casos, são os Pais. E Amor é respeito, é tolerância, é capacidade de comunicação, é alegria, é atenção, é cuidado, é intimidade, é cumplicidade.
Que mensagens lhes passamos quando decidimos permanecer num casamento árido disto tudo, em nome deles?
É ao contrário.
Devemos escolher o Amor em seu nome.
Devemos escolher a felicidade em seu nome.
Devemos escolher o respeito em seu nome.
Devemos escolher a coragem em seu nome.

Todas as escolhas são legítimas, quero deixar isso bem claro. É legítimo querer permanecer num casamento infeliz por medo do que os outros vão dizer, por medo de não nos conseguirmos aguentar nas próprias pernas, por razões económicas, por estatuto, por conforto, por medo do desconhecido, por amor...Todas as razões são válidas (e digo isto sem ponta de ironia!), menos os filhos.
A (des)culpa com os filhos torna-os culpados e esse é um fardo pesado e injusto demais.



domingo, 17 de fevereiro de 2019

Tens medo de quê?


Cresci cheia de medos e com a crença de que nunca teria coragem para falar a minha verdade. Na escola primária era conhecida como "a mariquinhas pé de salsa", passava grande parte do dia a chorar e grande parte dos intervalos fechada na casa-de-banho, com medo que me batessem ou que me dissessem algo que mexesse comigo.
Cresci com medo de tudo: de perder a minha mãe, das amiguinhas da escola, de estar sozinha, de me fazerem mal, de ninguém querer brincar comigo, de gozarem comigo, de não gostarem de mim. 
Viver com medo é lixado e, acreditem, lixa parte da vida, porque na idade adulta há momentos em que voltamos a sentir muitos dos medos irracionais da infância.
Aos 44 anos, contudo, leio muitos mails de pessoas que me chamam corajosa e ouço algumas amigas dizerem-me o mesmo, o que me tem feito pensar. De facto, quantas mudanças já não fiz na vida, mesmo cheia de medo? 
E tu...
Como é que ultrapassas o medo e passas à acção?
Como é que podes usar o medo a teu favor?
De que forma o medo te impulsiona, ou será que só te paralisa?
Tens medo de quê?

A resposta a estas e outras perguntas, vão ser dadas por mim e pela Psicoterapeuta Jaquelina Amado, na Masterclass " Fazer do Medo um Aliado e Não um Inimigo", na Red Apple, no dia 24 de Fevereiro, entre as 15H e as 18H.
Garante já a tua vaga através do email jaquelinamado@gmail.com!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Neste Dia dos Namorados, vamos falar de Amor?


Há poucos dias, no carro,  a minha filha disse-me "Mãe, tenho saudades daquele tempo em que vivíamos contigo e com o pai, semana-sim-semana-não".
Não fosse estar bem resolvida com este tema, a frase da Vitória teria caído como um banho de água fria! Afinal, não serei eu a figura de referência dos meus filhos? Não estarão felizes comigo? Não sou eu quem cuida todos os dias, a todas as horas? Não serei suficiente? Não estarei a dar conta do recado?
As perguntas e os questionamentos sobre a mãe que sou poderiam durar indefinidamente, numa espécie de tortura auto-imposta, mas já há muito tempo que não entro nesse jogo comigo própria. As saudades do pai e as boas recordações com que a minha filha ficou desse período da vida dela, só significam que ambos fizemos bem o nosso trabalho. Significam que os "modelos certos e errados" moram na nossa cabeça e que as famílias podem ser feitas de muitos tamanhos, feitios e cores e que a receita certa só depende de um único ingrediente: o Amor.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Eu, desavergonhada me confesso!


Hoje saí do trabalho com o meu homem, e antes de irmos buscar o Vicente à creche, decidimos ir beber uma imperial e comer uns tremoços.
Na mesa atrás da nossa, estavam três mulheres a beber café e a ver o programa da Júlia Pinheiro que passava na televisão. Uma delas virou-se para as outras e disse "Gosto mais da Júlia Pinheiro que da Fátima Lopes. Tem cara de desavergonhada, já vai no terceiro! Eu já estou casada há 60 anos, tínhamos 19...".
Fiquei a pensar em como continuamos a viver numa sociedade tão preconceituosa e em como nós, mulheres, fruto da cultura patriarcal e de toda a porcaria que nos enfiaram na cabeça ao longo dos séculos, ainda somos tão cruéis umas com as outras. 
É certo que as "senhoras defensoras da moral e dos bons costumes" da mesa atrás da nossa eram de outra geração, mas fiquei a pensar nas várias mulheres da minha idade (e algumas delas, ditas "amigas"), que se contorceram de asco quando souberam da minha decisão de me separar do pai dos meus três filhos. Algumas, na verdade, nunca mais deram à costa. Não as condeno, porque as amizades são como os amores: há algumas que não são para ser, aceitemos isso com fair play.
Também fiquei a pensar que se aquelas senhoras, verdadeiras "guardiãs da decência feminina", soubessem que em vez de ir buscar o meu filho meia hora mais cedo à creche, fui beber jolas e comer tremoços, o que não diriam de mim? E se lhes acrescentasse que tive três filhos de um homem e um filho de outro? E se lhes dissesse que fui eu quem decidiu separar-se? E se lhes confessasse que o que determina um bom casamento não são os anos que ele dura, mas aquilo que realmente nos acrescenta?
As três senhoras da mesa atrás da nossa são, infelizmente, uma caricatura dos juízos de valor e da mediocridade que ainda grassa por aí. Pior que as senhoras da mesa de trás, são a massa disforme de senhoras de todas as idades que povoam o nosso universo, muito para além daquela tasca das imperiais e dos tremoços. São as senhoras da vida real, que por causa da tremenda infelicidade em que as suas vidas se tornaram e da sua incapacidade de fazer mudanças politicamente incorrectas, criticam a vida das outras. Das desavergonhadas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sabes o que dizem de nós?



"Adorei participar nesta Masterclass! O tema, a forma clara com que transmitiram os conteúdos e a generosidade com que partilharam as suas experiências de vida foi maravilhoso!", Patrícia C.

"Gostei muito! Foi bastante enriquecedor!", Rita G.

Dia 24 de Fevereiro, eu e a Psicoterapeuta Jaquelina Amado voltamos a estar juntas para a Masterclass "Fazer do Medo um Aliado e não um Inimigo". Vai acontecer na Red Apple, em Lisboa, entre as 15H e as 18H.

Junta-te a nós num momento intimista e transformador!


Inscrições: jaquelinamado@gmail.com


domingo, 10 de fevereiro de 2019

O Divórcio pode ser uma oportunidade para sermos Pais melhores!


A nossa história pode ser o nosso propósito.
Este foi o mote para, em 2019, ter decidido começar a apoiar mães e pais que se separam e/ou divorciam a exercer uma parentalidade positiva, em condições que podem ser adversas para todos. Na verdade, ser mãe e pai é desafiante sempre, mas ser mãe e pai no meio do tsunami que pode ser uma separação conjugal, é uma ultra-maratona.
Acredito que a minha experiência de filha de pais divorciados e de mãe que se divorciou com 3 filhos, é uma mais valia. Sei de cor o que é estar em ambos os "lados da barricada" e, para além das ferramentas que vim a aprender em muitas das formações que tenho feito, conheço por força da minha história pessoal, muitas estratégias para sobreviver no meio do caos e para reconstruir uma vida com sentido.
Acredito que os nossos filhos merecem, em qualquer contexto, a nossa melhor versão, e também acredito que cada um de nós que se separa (quer quem tomou a decisão, quer quem foi confrontado com ela), merece reaprender a aceder à sua melhor versão com um bónus extra: a aprendizagem que esta experiência desafiante lhe trouxe.
Por mais politicamente incorrecto que isto possa parecer, sei que o divórcio pode ser uma oportunidade para sermos Pais melhores, porque é quando tomamos consciência de que não iremos deitar os nossos filhos todas as noites, de que não os iremos levar e buscar da escola todos os dias, nem estaremos presentes em todas as conversas importantes, nem em todos os momentos decisivos, que podemos tomar uma decisão (a única decisão possível, na verdade): aproveitar cada momento com presença e com alegria e sermos os melhores Pais que pudermos ser no tempo que temos à nossa disposição. Tomar consciência dos limites e da finitude de tudo isto, pode ser o gatilho necessário para exercer uma parentalidade intencional, o oposto da parentalidade em piloto automático que nos caracteriza tantas vezes!


Se quiseres saber mais informações, envia-me mail para martamoncacha@gmail.com

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Co-sleeping ou uma maneira pomposa de justificar a minha preguiça!


Há dois meses que o Vicente vem dormir para a nossa cama a meio da noite. Começou por ser já quase de manhã mas, aos poucos, foi antecipando a vinda, e hoje faz o primeiro sono na sua cama e perto das duas da manhã, aparece na nossa.
Sei exactamente o que temos de fazer: levá-lo de volta as vezes que forem precisas até regressar ao padrão de sono anterior, mas não temos dado conta do recado. Está frio, andamos mortos de cansaço, somos pais acima dos 40 e sabemos que mais velho, o Vicente vai querer esgueirar-se para outras camas que não a nossa.
Dizem os especialistas que estamos em co-sleeping. Estive a ler sobre isso para ver se dando nome a isto que nos deita abaixo, fica mais fácil. Mas o pior é que não fica. Estamos exaustos, sem paciência e com zero energia de manhã. Para ser sincera, levanto-me todos os dias com a sensação de que não dormi, e todos sabemos que a privação de sono é tortura. Acho que é isso, sinto-me mais ou menos torturada.
Agradeço todas as sugestões que me possam vir a dar ao lerem este post, e não quero parecer pobre e mal agradecida, mas preferia que não partilhassem dicas de como posso reverter a situação, nem me dessem lições de moral. Sei exactamente como posso fazê-lo e se não o tenho feito, tem sido uma escolha movida a preguiça que, como todo este tipo de escolhas, custa cara. Se quiserem ser generosos comigo, mandem-me beijos e sejam solidários. O resto, eu resolvo.
Obrigada pela paciência.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Socorro, vivo com o padrasto dos meus filhos!


Ninguém sonha em dar aos filhos um padrasto ou uma madrasta. A família idealizada não inclui estas personagens que, aliás, nos habituámos a ver como monstros nos contos de fadas da nossa infância.
A vida, contudo, é bem mais criativa e surpreendente que qualquer história infantil, de modo que nos coloca no caminho situações que não esperávamos e pessoas com que não contávamos. O padrasto e a madrasta dos nossos filhos, podem ser algumas delas.
O medo vem naturalmente. Quando o Rui veio viver comigo e com os meus filhos, receei que não se adaptassem, que não se gostassem ou que, ao contrário, a sua presença viesse substituir a figura do pai. Não aconteceu nada disso, porque a sua integração na família foi tão natural, quanto clara. O Rui era o namorado da mãe, mas não era o pai de ninguém. E ainda que assumisse muitas funções normalmente atribuídas aos progenitores, o Rui tinha o seu papel, sem precisar assumir nenhum outro que não lhe pertencia.
Esta clareza de papeis é, em meu entender, a chave para um processo de integração bem sucedido. O padrasto (ou madrasta), precisam acolher a história a que nunca pertenceram, aceitar que nunca lhe pertencerão, e ser proativos na construção de uma nova história por estrear, onde possam assumir um papel decisivo. É um lugar de construção, onde tudo está em aberto, e essa circunstância é bela e aterradora ao mesmo tempo. Ser uma "tela em branco" é tão desafiante quanto assustador! É preciso coragem. É preciso paciência e alguma capacidade de resignação. É preciso saber lidar com a frustração de se tentar ser tudo, mas nunca se ser o bastante. É preciso segurança para gerir uma posição protagonista sem nunca se ser a personagem principal. Basicamente, é preciso doses massivas de Amor. Amor pelos filhos do coração, amor pelo(a) parceiro(s), amor pelo pacote todo.
E depois...depois é quando a magia acontece, e de padrasto se passa a (pai)drasto. E de madrasta se passa a (mãe)drasta. E é aí, nesse posto conquistado, que os verdadeiros desafios começam. Como as mães e os pais de todo o mundo, ao fim ao cabo.

[No dia 28 de Fevereiro, vou estar na Red Apple a falar sobre Pais & Filhos do Coração. Apareçam!]

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Pais & Filhos do Coração!

 A Vida deu-me um padrasto e uma madrasta e deu aos meus filhos um (pai)drasto e uma (mãe)drasta de mão cheia!
É sobre isso e sobre esta nossa família que se multiplicou, ao invés de se ter dividido, que falarei no dia 28 de Fevereiro, na Red Apple, em Lisboa.

Entretanto, é já amanhã que o Psicólogo e Mediador Miguel Leite vai falar sobre a gestão das emoções na Mediação.
Apareces? 
Contamos contigo!