sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Este post é para todas as Mulheres que ainda não sabem quão lindas são!


Há pouco tempo usava pestanas postiças, gelinho nas unhas e tinta vermelha no cabelo. Numa outra vida cheguei a usar rabo de cavalo postiço, pus unhas de gel (incendiei uma delas a acender a vela do bolo de aniversário do meu filho mais velho!) e descolorei ao cabelo porque queria ser igual à Alexandra Lencastre. Se formos por aí, fui ruiva por causa da Julia Roberts, fiz uma permanente (na altura em que tinha o cabelo mais liso) para me parecer com a minha vizinha de baixo e um alisamento (quando o cabelo encaracolou depois das primeiras três gravidezes), porque quase todas as minhas amigas tinham cabelo liso, escova progressiva, alisamento marroquino, realinhamento térmico-capilar, alisamento a laser ou infravermelho e outros procedimentos cujos nomes são dignos de filme de ficção científica.
Sempre quis ter um estilo próprio e andei à procura dele muitos anos, mas só recentemente percebi que partia sempre da premissa errada: não era o meu estilo que procurava, mas o das mulheres que admirava por alguma razão e com quem me cruzava nalgum momento. Uma busca que se revelou cansativa, ridícula e estéril e que culminou no dia em que disse à minha filha que ela não se devia envergonhar dos seus cabelos encaracolados, que eram lindos, e ela me perguntou, então, porque que razão esticava eu os meus. Fiquei sem pio e decidi parar de alisar. E acho que esse foi o primeiro passo para a aceitação da "matéria-prima" de que dispunha e com a qual (tal como pregava à minha filha), teria que lidar a vida inteira: o meu corpo, o meu cabelo, o "pacote" todo.
Mas não me interpretem mal. Não desatei, repentinamente, a diabolizar todos os artifícios a que recorremos para melhorar alguma coisa em nós, para aumentar a auto-estima, ou simplesmente, para mudarmos. Continuo a defender que é tudo legítimo, assim nos sintamos confortáveis. Continuo a ter amigas que insistem em alisar o cabelo e que só se sentem elas próprias daquela maneira, e ninguém tem o direito de questionar isso em nome de nenhum tipo de fundamentalismo. Mas também acho que há um trabalho de aceitação a fazer, a começar pelos nossos filhos e (perdoem-me a discriminação), pelas nossas filhas! A minha tem uma imagem diferente da maioria das coleguinhas da escola, fora dos estereótipos, e tem sofrido com isso. Continua a sofrer com isso. E só há uma maneira de resolver a questão: empoderá-la. Dizer-lhe as vezes que forem precisas que ela é única, que somos todos, e que é essa característica que enriquece cada um de nós e o mundo inteiro. Dizer-lhe que ela pode esticar o cabelo, um dia, e pintá-lo de todas as cores do arco-íris, mas sem nunca se esquecer que também é linda assim, tal como é; e que essa certeza é a maior liberdade delas todas. É como quando chegamos a casa e nos sentimos num porto seguro; o nosso corpo também pode sê-lo, façamos com ele o que quisermos, mas sabendo que lhe poderemos voltar um dia. E que nos reconheceremos.

[este post é para ti, filha. Para quando cresceres mais um bocadinho]

5 comentários:

Rita disse...

E que mudança boa,Marta...!Aos 35 as minhas brancas já dão um ar da sua graça e a minha intenção é deixá-las brilhar ;) Por curiosidade,o gelinho também foi abandonado ou é um work in progress?Beijinhos e obrigada pela inspiração e pelo contágio positivo :)

Unknown disse...

Olá querida Marta!
A Vitória tem de facto uma beleza fora de vulgar, e é exatamente isso que faz com que ela seja lindíssima.
Um beijinho enorme para ela.
Beijinhos para toda a família.
������������

Mena Almeida disse...

Eu acho que somos lindas sem (tintas)
Beijinho

ana rita disse...

Adorei este texto. Penso que retrata duma forma muito profunda a forma como nós vamos todas sentindo numa ou noutra fase da vida. Porque nós convencemos disso ou porque os outros nos convencem que se fossemos de outra forma é que era.
Concordo que é na aceitação do que queremos ( as tintas ou não ) e do que somos ( iguais ou diferentes) que encontramos a paz e a felicidade.
Obrigada pelo seu texto.

Catarina Silva disse...


"...no dia em que disse à minha filha que ela não se devia envergonhar dos seus cabelos encaracolados, que eram lindos, e ela me perguntou, então, porque que razão esticava eu os meus. Fiquei sem pio e decidi parar de alisar."

Sempre a aprender com os filhos, sempre os filhos (e o amor pelos filhos) a operar maravilhas em nós, a testar os nossos limites, a questionar as nossas opções...no fundo a fazer-nos crescer enquanto seres humanos.

Também tenho uma filha com uma beleza diferente, e este texto encaixa na perfeição na "loucura" a que algumas mulheres se sujeitam pela falta de aceitação do seu corpo, algumas tão bonitas mas que não conseguem ver a sua própria beleza. Parabéns Marta, por ter percebido, por se ter dado o "click"
em si...E também pela coragem do seu testemunho, porque esse testemunho pode operar o "click" noutras mulheres e ajudá-las também a libertarem-se dos estereótipos.